Sou BULÍMICA??? O que é bulimia?

Não se deve confundir bulimia com hiperfagia.

Entre os vários distúrbios alimentares que correspondem a um consumo excedente, falamos de hiperfagia quando o consumo alimentar excessivo ocorre durante as refeições (e não fora delas). Pode-se resumir em uma frase: “Quando eu começo, não posso parar: é bom demais… “.

O hiperfágico perde o controle das quantidades que ingere em conseqüência de vários fatores: aumento da fome ou do apetite, hipersensibilidade ao prazer sensorial ligado aos alimentos, demora na sensação de saciedade ou mesmo insaciedade. Comer rápido demais pode levar à hiperfagia.

Se o indivíduo que gosta de comer muito permite-se um festim episódico, seu peso pode permanecer normal. Se, ao contrário, ele devorar diariamente, a obesidade o aguarda…

A bulimia é bem diferente. Em geral, ela atinge pessoas jovens, mulheres em 97% dos casos. Na França, afeta 2% das jovens.

Há critérios de diagnóstico bem definidos, referidos no manual americano de psiquiatria DSM IV:

As crises de bulimia são recorrentes (cerca de duas vezes por semana por, no mínimo, três meses) e caracterizam-se por:

– Absorção de enorme quantidade de alimentos num limitado período de tempo

– Sentimento de perda de controle sobre o comportamento alimentar.

– Caráter inarredável e opressor do consumo alimentar.

– Consumo alimentar solitário, sem testemunhas.

– O bulímico tem consciência de sua conduta, sofre por isso, culpa-se e se autodeprecia.

Associados a crises bulímicas, há comportamentos compensatórios impróprios e recorrentes que visam prevenir o ganho de peso: provocar vômitos, abusar de laxantes, tomar diuréticos e moderadores de apetite, lavagens ou, ainda, de fases de jejum e de exercício físico excessivo.

Essas fases de controle exagerado para compensar os excessos bulímicos, às vezes, acabam por levar à anorexia. Anorexia e bulimia podem, portanto, coexistir numa mesma pessoa, o que é relativamente freqüente.

Muitas vezes, o bulímico apresenta outros comportamentos compulsivos: cleptomania, compras compulsivas de objetos inúteis para sentir-se seguro etc.

Em geral, ele busca esconder a realidade de sua doença, mas pode-se suspeitar dela quando alguém repete freqüentemente que “não como nada” e/ou evita o convívio (quer dizer, toda refeição em comum… ).

O doente vive seu distúrbio em segredo, entre a geladeira e o banheiro (quando as crises de bulimia associam-se a vômitos voluntários, o que é habitual). Uma confissão, mesmo para o médico, só acontece se o bulímico realmente confiar muito nele.

Complicações da bulimia são freqüentes, muitas delas devidas aos vômitos, que provocam afluxo de suco gástrico ácido: inflamação e ulcerações do esMago, engasgos (os alimentos caem na traquéia em vez do esMago), ulcerações dentárias, distúrbios sangüíneos (taxa de potássio baixa). A bulimia costuma acompanhar-se de uma dilatação gástrica e, nas moças, do desaparecimento das menstruações (amenorréia).

Esse distúrbio é a expressão de um mal-estar: falta de confiança em si, sentimento de abandono, de imperfeição, vazio afetivo, antecedentes de abuso sexual ou de maus tratos são possíveis. A origem pode estar na primeira infância: a mãe do bulímico, quando ele era bebê, temia deixá-l o sofrer. O menor grito era interpretado como necessidade de alimentação. A qualquer choro, a mamãe respondia com o peito ou a mamadeira. No entanto, um bebê às vezes precisa apenas de presença, de afeto, de carinho.

Quando adulto, o bulímico confunde angústia, solidão e fome.

Ele tenta fazer desaparecer seu vazio afetivo ou sua frustração enchendose de alimentos. “Oco por dentro”, ele tem necessidade imperiosa, impulsiva e imediata de alimento. Lança-se, às vezes também perdidamente, em aventuras sentimentais sem futuro, num tipo de “bulimia sexual”. Busca suprir-se de sensações elementares imediatas.

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