Dietas com Ácidos Graxos

Ansel Kiss realizou um estudo em sete países com hábitos alimentares distintos, entre outras variáveis, como pressão arterial, gordura da dieta e tabagismo, estabelecendo pela primeira vez correlação direta entre o teor de gordura presente na dieta e o índice coronariano por coronariopatia. Após 10 anos de observação, todas as variáveis foram definitivamente correlacionadas, como a morte súbita, colesterolemia, eventos coronarianos e quantidade de gordura na dieta, tendo sido firmada a correlação das gorduras saturadas com a doença arterial coronariana, além da correlação inversa das gorduras insaturadas.

Recentemente, Kromhout e Sanders em seus trabalhos demonstraram uma nova e inesperada correlação do peixe na dieta, como a exemplo dos ácidos graxos insaturados de maneira geral e a redução do desenvolvimento da progressão na mortalidade secundária à coronariopatia. Kromhout e col. realizaram uma pesquisa estudando a relação entre o consumo de peixe e doença coronariana em um grupo de homens na cidade de Zutphen, na Holanda, sobre 872 homens de meia-idade durante 20 anos (19601980), chegando ao resultado de que a mortalidade por doença coronariana foi mais que 50% menor entre os que consumiram pelo menos 30g de peixe por dia do que naqueles que não consumiram peixe, concluindo que o consumo de um ou dois peixes por semana pode ter valor preventivo na doença coronariana.

Vários estudos realizados no Japão revelaram índices de mortalidade mais baixos na ilha de Okinawa, onde o consumo per capita de peixe era de 200g diários. A relação dos resultados obtidos com dietas ricas em peixe baseia-se no fato de que animais marinhos e peixes de água fria contêm apreciáveis quantidades de ácidos graxos poliinsaturados da série ômega-3.

Os hábitos dietéticos de populações como os esquimós da Groelândia e os habitantes de algumas ilhas do Japão, grandes consumidores de peixes e animais marinhos, proporcionam a observação de que os ácidos ômega-3 eram capazes de elevar o tempo de sangramento, reduzir a adesividade e agregação plaquetárias. Além desses dados, as taxas de mortalidade cardiovascular, mais reduzidas desses locais corroboraram as pesquisas realizadas. Foi demonstrado que os peixes de água fria apresentam elevada concentração de ácidos ômega-3 devido à sua alta concentração e síntese pelo zooplâncton daquelas regiões, principalmente pelos microcrustáceos “Krill”, que fazem parte da alimentação dos peixes de água fria.

A orientação do National Heart, Lungs, and Blood Institute é a de que deva ser encorajado o consumo de peixe. Os compostos dos ácidos eicosapentaenóico e decosa-hexaenóico purificados já produzidos pela indústria farmacêutica, podem ser empregados, dentro dos critérios de indicação e precaução, pois pacientes em uso de vasodilatadores ou antiagregantes plaquetários como parte de seu tratamento podem ter exacerbado estas ações por potencialização de efeitos.

Michel Batlouni, chefe de Seção de Cardiolagia da Clínica do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia de Goiás, realizou importante estudo sobre ácidos graxos ômega-3 e cardiopatia isquêmica referente a estudos epidemiológicos, desde Sinclair (1944), assim como os de Kromhout e col., assinalando que o uso de dietas ricas em ácidos graxos poliinsaturados ômega-6 promove aumento da concentração de ácidos graxos ômega nas células do sistema imunológico, acarretando aumento de PGE-2, o que resulta em efeito imunossupressor. Já a adh1inistração de dietas ricas em ômega-3 em pequenas quantidades altera a composição dos ácidos graxos nas células do sistema imunológico, diminuindo a produção de eicosanóides ômega-6. Do equilíbrio entre a presença de substâncias eicosanóides originadas dos ácidos ômega-6 e ômega3, mediadores potentes, respectivamente, dependerá a eficácia do sistema imunológico.

Acha-se provado que os peixes de água gelada próxima à camada polar têm alta capacidade de produção de ácidos graxos poli insaturados ômega-3 que possuem a propriedade primordial de exercer o papel de tampão térmico anticoagulante nessas espécies de pescado, o que lhes permite grande capacidade de adaptação, assim como grande resistência às baixas temperaturas. Em oposição, a quase totalidade de ácidos graxos poliinsaturados, principalmente os de peixes de água fria como o arenque, salmão, bacalhau, albacora, cavala e anchova, pertence à família do ácido alfa-linolênico, à série ômega-3, sendo também encontrado em teores apreciáveis nos óleos de linhaça e soja. O ácido alfa-linolênico também pode ser convertido em EPA (ácido eicosapentaenóico) e DHA (ácido deco-hexapentaenóico), sendo essa conversão lenta no homem, ocorrendo com a idade e até pela ação de certos estados mórbidos, a perda da dessaturação que reduz a síntese endógena de EPA e DHA através do ácido alfalinolênico de dieta. Nos peixes marinhos, os ácidos graxos ômega-3 predominantes são o EPA e o DHA, que sofrem variações no seu conteúdo pelas modificações sazonais.

Sabe-se que o EPA e DHA previnem a conversão do ácido linoléico a araquidônico, catalisando a acil-coenzima A sintetase à incorporação desses ácidos na membrana fosfolipídica, pois tanto EPA como DHA competem com o ácido araquidônico na posição 2 do fosfolipídio, o que acarreta diminuição dos níveis plasmático de ácidos araquidônico, assim como de seus produtos.

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