Estudos epidemiológicos

Sinclair, em 1944, assinalando a raridade da cardiopatia isquêmica e de outras características da aterosclerose nos esquimós da Groelândia, iniciou a era de estudos sobre o papel benéfico do consumo de peixe sobre a doença coronariana.

Bang e col. e Dyeberg, através de estudos epidemiológicos, documentaram entre esquimós da Groelândia baixa incidência de mortalidade cardíaca e infarto, apesar de consumirem dieta rica em gordura e colesterol, sal ientando-se a associação aos hábitos alimentares e a composiÇãO das gorduras consumidas à baixa incidência de mortalidade observada, pois tais gorduras derivavam de peixes e animais marinhos. Outros estudos epidemiológicos evidenciaram a relação entre dieta rica em peixe e a baixa incidência de cardiopatia isquêmica. Os teores de ácidos linoléico e araquidônico apresentaram menor concentração sangüínea. O perfillipídico caracterizava-se por níveis baixos de triglicerídios e lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL), colesterol, lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e níveis mais altos de lipoproteínas de alta densidade. As plaquetas achavam-se em taxa reduzida, assim como a agregação plaquetária, tempo de coagulação prolongado e sangramento fácil, além de pressão arterial baixa. Em oposição, esquimós que migraram para a Dinamarca apresentavam perfis lipídicos plasmáticos e os tempos de sangramento mais similares aos da população dinamarquesa do que a dos esquimós da Groelândia, sendo a dieta e não a genética apontada como o fato mais importante.

Goodnight e colo observaram que tempos de sangramento prolongados e adesão plaquetária reduzidos resultaram da relação ácido araquidônico/EPA, causada pela incorporação dos ácidos ômega-3 nas células da membrana; outros autores demonstraram que a ingestão de 2-3g de EPA/dia prolongava o tempo de sangramento em 42%. Os estudos de pesquisadores japoneses, como os epidemiológicos de Kagawa e col., indicam o papel relevante do consumo de peixe na dieta. Outros estudos realizados documentaram alterações favoráveis nos perfis hemático e lipídico que resultaram da ingestão de peixe ou da redução de gorduras saturadas à suplementação com cápsulas de óleo de peixe, tanto em pacientes hiperlipêmicos como em indivíduos normais, que contribuíram para o perfil antiatemmatoso favorável.

Em 1960, na Holanda, foi realizada, na cidade de Zutphen, uma pesquisa longitudinal relacionada entre dieta e outros fatores de risco de doença coranariana entre homens de meiaidade, abordando diversos dados, como média de consumo alimentar e seu histórico dietético. O consumo de peixe de Zutphen era de 20gldia em 1960, sendo 2/3 de peixe magro (bacalhau, linguado) e 1/3 de peixe gordo (arenque e cavala), contendo o peixe magro cerca de 1,5% de gordura, dos quais aproximadamente 5% de ácido eicosapentaenóico (ômega-3), e estudos in vitro demonstraram que este ácido graxo é o precursor do tromboxane A3 da plaquela e da prostaglandina 13 na parede vascular. O tromboxane A3, ao contrário do tromboxane A2, que deriva do ácido araquidônico (ômega-6), não tem poder de agregação plaquetária, sendo a prostaglandina 13 substância eficaz contra a agregação plaquetária com a 12.

Os trabalhos de Dyerberg e col. sugeriram que os níveis elevados de ácido eicosapentaenóico e níveis reduzidos de ácido araquidônico podem ocasionar um quadro antitrombótico, estado em que são formadas as prostaglandinas 13 ativa e o tromboxane A3 inativo. Hornstra e colo e Goodnight são de opinião que a baixa trombogenicidade das dietas ricas em óleo de peixe origina-se em primeiro lugar no fato de que as plaquetas não podem produzir tromboxanes suficientes para manter sua agregação.

As pesquisas epidemiológicas têm-se dirigido para os níveis de colesterol sangüíneo, assim como outros fatores que, associados, constituem fatores agravantes na evolução das manifestações aterogênicas coronarianas. Nos casos de elevação do colesterol, diversas medidas têm sido postas em prática para reduzi-lo através de um planejamento nutricional, terapêutico e preventivo, apesar de saber-se que o colesterol alimentar não representa a única fonte de colesterol sangüíneo, pois, como vimos, ele sofre síntese endógena. Os ácidos graxos e os lipídios também têm sido estudados, constatando-se que a incidência de cardiopatia coronariana acha-se também relacionada com outros fatores.

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