Uma situação ambígua
Os complementos alimentares têm uma situação legal mal definida, porque a regulamentação que os rege é um pouco vaga. Eles são considerados alimentos, no entanto, contêm proteínas, fibras, ácidos graxos e vitaminas em doses que não são as da alimentação costumeira. Além disso, são compostos por plantas e substâncias químicas que, em certas doses, fariam deles medicamentos. Aliás, alguns medicamentos contêm, às vezes, as mesmas substâncias.
Antes de ser comercializado, no Brasil, um medicamento necessita de uma autorização de venda liberada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Essa autorização é difícil de ser obtida e exige a apresentação de relatórios científicos completos, apoiados em pesquisas realizadas primeiro em animais, depois em humanos. Eles devem provar a eficácia do remédio e sua inocuidade para a saúde. A obtenção dessa autorização demora, às vezes, alguns anos, mas bastam alguns meses para conceber no papel a fórmula de um complemento alimentar, produzi-la e comercializá-la.
Ora, isso apenas apaga as pistas, a venda desses complementos, muitas vezes, ocorre em farmácias, o que parece conferir a esses produtos uma certa aura de seriedade, ainda que não haja nenhum controle de um organismo oficial antes de sua comercialização. Considerado como alimento, ele pode ser vendido como uma bala. Depois, até pode vir a ser objeto de investigação por órgãos de defesa dos consumidores, de repressão a fraudes ou por associações de consumidores.
Uma publicidade enganosa, por exemplo, também pode levar a processos. Salvo em caso de acidente, ele pode, então, ser vendido com toda impunidade durante anos antes que as diversas investigações do governo ou os processos judiciais consigam levar à sua interdição.
É raro que um produto seja realmente perigoso, mas tudo depende da quantidade ingerida. Se um indivíduo consumir mais do que o previsto (esperando uma maior eficácia!), se ele utilizar vários produtos contendo complementos, se ele associar substâncias incompatíveis, arriscar-se-á a ser vítima de um incidente, ou mesmo um de um acidente.
Acidentes ocorrem porque esses produtos estão à venda livremente, não exigem receita e quem os consome não costuma informar seu médico a respeito. Todavia, na maior parte dos casos, eles contêm uma substância ativa que têm os efeitos anunciados pela propaganda ou escritos na embalagem, mas que é incorporada numa concentração baixa demais para ser eficiente. É o tipo de tapeação que os órgãos oficiais reprimem.
Saiba, no entanto, que esses processos podem levar meses, até anos, antes de fazer com que um produto desapareça das prateleiras.
Por fim, algumas substâncias não têm estritamente nenhum efeito, ainda que suas virtudes para diminuir as medidas ou emagrecer sejam abundantemente enaltecidas pela publicidade. Elas têm ainda uma grande desvantagem: a de fazer mal à sua carteira!
Análise crítica de certos produtos vendidos livremente:
Plantas
Ainda que entrem na composição de inúmeros complementos alimentares (as fibras é que são mais utilizadas), a fitoterapia é uma terapêutica medicamentosa plena, voltaremos ao assunto na pergunta seguinte.
Fibras
Certas cápsulas vendidas para emagrecer contêm gomas (oriundas de leguminosas) ou alginas (extratos de algas). Ingeridas 30 minutos antes das refeições com um grande copo de água sem gás, elas incham no estômago e dão a impressão de saciedade. Por esse simples efeito mecânico (ocupar espaço), elas tiram a fome. Em seguida, quando chegam aos intestinos, diminuem a absorção das gorduras e dos carboidratos pelo organismo. Parecem, então, evidentemente interessantes…
Mas se pegarmos o exemplo do glucomana, absorvido na dose de 2 gramas por dia, ele não mostra nenhuma eficácia e seria preciso
absorver 4 gramas por dia para obter uma perda de peso significativa.
Nessa dose, no entanto, os efeitos colaterais são muito grandes: ventre e abdome inchados e gases insuportáveis!
Quando 12 gramas de psylium são ingeridas antes das três refeições, é um pouco mais suportado. Além do mais, ele tem o efeito de fazer baixar o colesterol e a glicemia (o que conduz à regressão da insulinorresistência).
Nenhum estudo científico permite garantir a utilização dessas várias fibras (que, aliás, também podemos encontrar na alimentação).
L-carnitina
A ação emagrecedora da L-carnitina, durante muito tempo, foi intensamente exaltada pela publicidade. Contrariando o que muito freqüentemente foi dito, essa enzima não queima as gorduras, mas facilita a utilização pelo organismo, como combustível, dos ácidos graxos vindos das gorduras de reserva.
Para que ela seja ativa, é preciso, então, num primeiro momento, fazer com que os ácidos graxos saiam dos estoques, e essa etapa fundamental só pode ser vencida graças a medidas dietéticas (escolha de carboidratos com índice glicêmico baixo).
Além disso, a L-carnitina está naturalmente presente no organismo, inúmeros alimentos a fornecem (carne de carneiro: 210 mg por 100 g; carne de boi, levedo de cerveja, leite), assim, um déficit de L-carnitina é excepcional. Por outro lado, jamais foi comprovado que seria necessário não adicioná-los à nossa alimentação, mas substituir uma parte de nossos aportes em lipídeos por TCM. Mas outros pesquisadores mostraram que esses ácidos estimulam a secreção de insulina (que dificulta a perda de peso) e aumentam a taxa de triglicerídeos no sangue (o que favorece as doenças cardiovasculares). Levando em conta as contradições, é cedo demais recomendá-los como complementos alimentares.
Efedrina
Aumenta a termogênese e estimula a secreção dos hormônios tireoidianos (o que leva a uma perda de peso, aumentando a termogênese e queimando mais músculos do que gorduras). Ela é ainda mais eficaz quando associada à cafeína. Mas, considerando seus efeitos colaterais quando atinge doses ativas, torna-se totalmente desaconselhada. Nos Estados Unidos, onde foi muito empregada, é causa de alguns acidentes graves: hipertensão arterial, alterações do ritmo cardíaco, hipertireoidismo, glaucoma, retenção aguda de urina nos prostáticos, tremores, agitação, insónia, cefaléias, suores… Ela é ainda mais nociva para a saúde quando associada a certos medicamentos.
Esse breve panorama mostra que muitos produtos elogiados pela propaganda são:
- Totalmente ineficazes, ou teoricamente eficazes, sem que, entretanto, sua ação tenha jamais sido cientificamente comprovada em seres humanos.
- Ineficazes nas doses propostas ou suportadas pelo organismo.
- Perigosos.
Mas como emagrecer sem dificuldade é o sonho de muitas pessoas, a novidade é sempre vendável. Não resta dúvida de que outras moléculas e produtos similares serão, por sua vez, lançados no mercado, beneficiando-se de publicidades vantajosas…